quarta-feira, 21 de maio de 2008

ESTUDO - A TIRANIA DO TEMPO


Eclesiastes 3:16-4:3

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz. Que proveito tem o trabalhador naquilo com que se afadiga? Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens, para com ele os afligir. Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim. Sei que nada há melhor para o homem do que regozijar-se e levar vida regalada; e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.Sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar; e isto faz Deus para que os homens temam diante dele. O que é já foi, e o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou.


Talvez “tirania” seja uma palavra forte demais para o moderado fluxo e refluxo descrito com essas palavras o qual nos leva durante a vida inteira de uma atividade para outra oposta, e de volta novamente àquela. A descrição é agradável, com uma variedade de humor e de ação revelando diferentes ritmos em nossas ocupações. Agrada-nos o ritmo, pois quem gostaria de uma primavera perpétua (“tempo de plantar”, mas nunca colher), ou quem invejaria o homem de negócios que não dorme, que nós ficamos conhecendo no capítulo anterior?

No contexto de uma busca de finalidade, no entanto, este movimento de cá para lá e de lá para cá não é nada melhor do que o círculo vicioso do capítulo primeiro; e, além disso, traz consigo suas próprias conseqüências perturbadoras. Uma delas é que nós dançamos ao som de uma música, ou de muitas delas, que não foram compostas por nós; a segunda é que nada do que buscamos tem alguma permanência. Atiramo-nos a uma atividade qualquer que nos dê satisfação, mas com que liberdade a escolhemos? Dentro de quanto tempo estaremos fazendo exatamente o oposto? Talvez as nossas escolhas nem sejam mais livres do que as nossas reações diante do inverno e do verão, ou da infância e da velhice, ditadas pela marcha do tempo e por mudanças espontâneas.

Vista desta forma, a repetição “tempo... e tempo” começa a tornar-se opressiva. Seja qual for a nossa capacidade e iniciativa, o nosso verdadeiro senhor parece ser a inexorável mudança das estações: não apenas as que se encontram no calendário como também aquela maré de acontecimentos que ora leva a um determinado tipo de ação que nos parece adequado, ora a um outro que coloca tudo de maneira inversa. Obviamente, pouco temos a dizer das situações que nos levam a chorar, a rir, a prantear e a saltar de alegria; mas os nossos atos mais deliberados também podem ser condicionados pelo tempo, mãos do que supomos. “Quem diria”, falamos às vezes, “que chegaria o dia em que eu acabaria fazendo tal ou tal coisa, e achando que é o meu dever!” Assim, a nação pacifista prepara-se para a guerra; ou o pastor de ovelhas pega a faca para matar a criatura que ele antes cuidou para que não morresse. O colecionador distribui o seu tesouro; amigos têm desavenças amargas; a necessidade de falar vem depois da necessidade de guardar silêncio. Nada do que fazemos parece, fica livre desta relatividade e desta pressão, quase uma imposição, vinda de fora.

Nossa reação natural seria buscar a realidade em algo além das mudanças, tratando a esfera das experiências cotidianas como um mero passatempo. Para nossa surpresa, no versículo 11 Coelet nos faz ver que essas perpétuas mudanças não são algo desordenado, mas um padrão deslumbrante e revelador, uma dádiva de Deus. O problema não é que a vida se recuse a ficar parada, mas sim que nós só percebemos uma fração do seu movimento e do seu plano sutil e intricado. Em vez da ausência de mudanças, temos ma coisa melhor: um propósito dinâmico e divino, com um princípio e um fim. Em vez de uma perfeição congelada temos o movimento caleidoscópico de inúmeros processos, cada um com seu próprio caráter e com seu período de florescer e amadurecer, formoso no seu devido tempo, contribuindo para a obra-prima total que á obra do Criador. Nós captamos estes momentos brilhantes, mas mesmo à parte das trevas com que se entremeiam, eles deixam-nos insatisfeitos devido à falta de um significado total que possamos entender. Diferentemente dos animais, absorvidos pelo tempo, nós queremos vê-los em seu contexto pleno, pois conhecemos um pouco da eternidade: o suficiente pelo menos para comparar o efêmero com o “eterno”. Parecemos alguém desesperadamente míope, percorrendo centímetro por centímetro uma grande tapeçaria ou pintura na tentativa de entender o todo. Vemos o suficiente para reconhecer um pouco de sua qualidade mas o grande desenho se nos escapa, pois nunca podemos nos afastar o suficiente para vê-lo como o Criador o vê, completo e por inteiro, desde o princípio até o fim.

Esta incompreensibilidade é desanimadora para o secularista pensante, mas não para o crente. Ambos podem refugiar-se na vida aproveitando-a ao máximo, mas o homem que não têm fé age no vazio. O versículo 12 não é tão frívolo como talvez pareça em algumas versões,l como na ER a frase final, enquanto viverem, lança uma sombra sobre qualquer empreendimento. Se nada é permanente, muito embora grande parte do nosso trabalho vá sobreviver a nós, estamos apenas enchendo o tempo; e disso vamos nos dar conta mais cedo ou mais tarde.

O crente, por outro lado, pode aceitar o mesmo tipo de programa despretensioso, não como um tapa-buraco mas como uma tarefa. É um dom de Deus (v.13), uma porção distribuída em nossa vida cujo propósito é conhecido pelo Doador e é parte de sua obra eterna; pois Deus não faz nada em vão. Como o versículo 14 destaca, os planos divinos são diferentes dos nossos e em nada precisam ser corrigidos ou acrescidos: eles perduram. O eternamente deste versículo combina com a eternidade colocada no coração do homem (v.11). Participar um pouco disto, por mais modestamente que seja, é um escape da “vaidade de vaidades”.

Assim todo o parágrafo fala coma “bondade” e a “severidade” simultâneas que encontramos na conhecida frase de Romanos 11:22: “... para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bondade de Deus...” O homem ligado às coisas da terra, à luz dos versículos 14 e 15 e de toda essa seção é prisioneiro de um sistema que ele não consegue quebrar nem sequer vergar; e por trás disso está Deus na meio de fuga, e nenhum jeito de alijar-se da carga que o estorva ou incrimina. Mas o homem de Deus ouve estes versículos sem tais receios. Para ele o versículo 14 descreve a fidelidade divina que transforma o temor de Deus em um relacionamento filial e frutífero; e o versículo 15 lhe assegura que Deus conhece todas as coisas de antemão, e nada fica esquecido. Deus não tem empreendimentos abortivos, nem homens que ele tenha esquecido. Novamente Coelet demonstra, de passagem, que o desespero que ele descreve não é o seu próprio, e nem precisa ser o nosso.

Mas há muitos outros fatos acerca do mundo que ele precisa destacar. Agora ele volta-se para o cenário da sociedade humana e a maneira de como nós exercemos o poder.

Extraído, A Mensagem de Eclesiastes
por, Derek Kidner

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