quarta-feira, 11 de março de 2009

REFLEXÃO - Pecado, a doença da alma

A história de Fausto (Goethe, 1806) é considerada um símbolo cultural da modernidade. Ela retrata a vida de um médico e intelectual alemão que, entediado e desiludido com o conhecimento que não lhe deu significado, e com a vida que não tinha mais sentido, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que se oferece para atender todos os seus desejos e vontades. Então ele se entrega aos prazeres nos vinte e quatro anos que fica sem envelhecer, em virtude do pacto que fizera, assinado com seu próprio sangue, e, no fim desse tempo, é levado para o inferno e a morte.

A busca obsessiva pela auto-realização tem levado o ser humano a pagar um preço muito alto para consegui-la. Neste vale-tudo da satisfação imediata, as pessoas se entregam sem limites e sem controle, seja a dieta ou ao sexo, ao consumo ou à malhação, expondo o corpo e a alma aos demônios modernos que se oferecem para atender todos os desejos e vontades. Tudo é feito com intensidade, sem uso da razão ou do bom senso, e com um custo espiritual, emocional e físico muito elevado.

O tédio, as incertezas, a negação do sagrado e dos valores éticos e morais tornam o ser humano vulnerável aos Mefistófeles modernos. Tiago, em sua pequena carta, nos apresenta numa rápida descrição a forma como o pecado é concebido e suas conseqüências para o corpo e a alma: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg 1.13-15). Para Tiago, a tentação que dá à luz o pecado vem de nós, somente de nós. Não temos como responsabilizar ninguém, apenas nossa cobiça, que nos seduz, alimenta a luxúria interior de cada um, engravida e dá à luz o pecado, que nasce, cresce, fica adulto e se transforma num terrível assassino.

O pecado continua sendo o grande problema do ser humano. Porém, o que acontece hoje é que ele não representa mais um grande problema; pelo contrário, chega a ser glamourizado. Aquilo que no passado foi repudiado hoje é visto como virtude; ambição, ganância, vaidade, promiscuidade, consumo são valores em alta. Com o avanço da ciência, o pecado deixou de ser um conceito teológico para se transformar em “doenças” e ser tratado com remédios. A dor da culpa que Davi sentiu por ter ofendido a Deus e ao próximo, que ele descreve nos salmos de confissão, hoje não é mais tratada com arrependimento e confissão, mas com terapia e prozac. Porém, a raiz do problema da humanidade continua sendo o pecado, a cobiça de cada um de nós, que vem dando à luz este assassino serial, colocando em risco a pessoa, a família e a sociedade.

Sabemos que a força última que move o ser humano é seu desejo por Deus. Em suas “Confissões”, Agostinho expressa assim este desejo: “Contudo, esse homem, uma partícula da tua criação, quer louvar-te. Tu mesmo o incitas a deleitar-se nos teus louvores, porque nos fizeste para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”. Por outro lado, se Deus não permanece no centro dos nossos desejos, eles se tornarão vulneráveis e confusos, levando-nos a ceder às seduções da mentira e do engano, envolvendo-nos em ilusões e paixões, numa busca insana de falsas realizações, adoecendo a alma e assassinando o corpo.

O que Tiago ou a história de Fausto nos revelam é que o personagem pensa que está no controle de tudo, gozando a vida como lhe agrada, se entregando a todos os desejos e prazeres; porém, só fica sabendo, às vezes tarde demais, que viveu uma grande ilusão e tornou-se menos real do que a figura sombria que o seduziu.

Como disse Agostinho, “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração permanece inquieto enquanto não repousar em ti”. Somente quando buscamos nossa realização e satisfação em Deus é que nossa alma encontra descanso e paz.


Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “O Caminho do Coração” e “Conversas no Caminho”.
Revista Ultimato

2 comentários:

OLHO VIVO disse...

ANTIÁCIDOS
A AZIA E MÁ DIGESTÃO... Espiritual!

Quem um dia não sentiu um o desconforto de uma “AZIA”? Quem também não experimentou uma “MÁ DIGESTÃO”? É pouco provável que nenhum ser humano tenha escapado destes distúrbios estomacais que quase sempre vem acompanhado de uma “RESSACA”.

A má digestão, ou indigestão, refere-se a problemas gastrointestinais que incluem sensação de estômago cheio; enjôos; arrotos; vômitos; sonolência após as refeições; dores abdominais; dor no estômago; azia e sensação de inchaço. O desconforto na região abdominal geralmente é acompanhado de náusea e mal estar, podendo provocar vômitos.

A indigestão, para a maioria das pessoas é o resultado de comer demais, muito rápido, ingerir alimentos gordurosos ou alimentar-se durante situações estressantes. Usar medicamentos que irritam o estômago ou estar muito cansado podem também causar má digestão ou piorá-la.

Em geral a administração de “ANTIÁCIDOS” a base de hidróxido de alumínio, um “SONRISAL”, por exemplo, promove alivio imediato da “AZIA” e da “MÁ DIGESTÃO”. No entanto, estes quadros normalmente persistem ou se tornam freqüentes, assim é aconselhável procurar um “ESPECIALISTA” para que seja realizada uma pesquisa mais detalhada. Certo é que conviver com este problema é desagradável além de ser um perigo real para a estabilidade física de qualquer pessoa.

Você já notou o que acontece quando é colocado um comprimido de “SONRISAL” em um copo d’água? O volume tende a crescer, em alguns casos transborda, há uns ruídos, tudo se move e borbulha, mas após um tempo, cessa o barulho. Um tempinho mais e logo o gás produzido pela efervescência do comprimido desaparece por completo. E o pior, a água pura, não é mais pura, agora tem um gosto desagradável e o princípio ativo do medicamento já não surte efeito. E então? Colocaríamos mais um comprimido para começar todo o processo novamente? Não! Cientificamente não é recomendável!

A verdade é que as nossas igrejas hoje, sem exceção, vivem uma crise de “INDIGESTÃO ESPIRITUAL” perigosa e que também há muito “COMPRIMIDO EFERVESCENTE” sendo ministrado como “PALIATIVO” nas igrejas do século XXI. Alca-luftal, Bisuisan, Digastril, Estomagel, Gastrogel, Gastrol, Leite de Magnésia, Magnésia Bisurada, Mylanta Plus, Siludrox, Sonrisal e outros de composição semelhante, todos com “SIMILARES EVANGÉLICOS” sendo ministrados indiscriminadamente nos PRONTO SOCORROS RELIGIOSOS. Pior, são indicados por MÉDICOS ESPIRITUAIS despreparados, sem formação, com “diplomas comprados” em Universidades Fantasmas ou simplesmente Comerciantes da fé.



Continua...

OLHO VIVO disse...

Continuação...

O efeito “SONRISAL” é um fator alarmante e perigoso no atual meio evangélico. No miserável afã de ver os templos sempre lotados, convida-se o pregador mais "FERVOROSO" - efervescente - que por sua vez abusa dos chavões, dos lugares comuns, da psicologia barata, das técnicas teatrais, das imitações de animais sob a desculpa de estar debaixo da unção, dos golpes de karatê disparados no ar e de todo tipo de "FIRULA" para agradar a obstinada platéia. Convida-se também os "LEVITAS", que surgem no cenário com suas canções e seus chavões extravagantes. Claro que não falta a tal “MINISTRAÇÃO PROFÉTICA”, na qual os cantores se prestam aos mais ridículos papéis, e isso debaixo das ovações da alucinada platéia. E tome “INDIGESTÃO”! E tome “ANTIÁCIDO”! Tem de tudo, de Jejum dos 40 dias, Corrente Poderosa, Oração Forte, Diabo amarrado, Cruzada de Curas e Milagres a Show Gospel... São os “MEDICAMENTOS ALTERNATIVOS” do tipo “BOLDO” sendo aplicados no lugar do recomendado que possui a marca registrada dos “LABORATÓRIOS CELESTE”, a “PALAVRA DE DEUS”. Aliás, este medicamento causa aversão a muitos “Doutores” da religião que preferem ignorá-lo a terem que mostrar a eficiência deles em “SUAS PRÓPRIAS VIDAS”.

Mas, passado tudo isso, a RESSACA ESPIRITUAL continua, volta-se a normalidade, ou melhor, quase... , pois a AZIA e a INDIGESTÃO continuam, haja vista que sempre há o fluxo enorme dos descontentes que abandonam o PRONTO SOCORRO RELIGIOSO logo que o "FERVOR" acaba, partindo em busca de novas aventuras espirituais, ou melhor, de “NOVOS MEDICAMENTOS”. E assim, para manter a “EFERVESCÊNCIA” do povão, o Pastor convida mais um grande pregador de fogo, que será o encarregado de movimentar novamente o pessoal, usando para isso as mesmas técnicas dos demais. E assim a igreja novamente fica cheia, borbulhando e num barulho infernal e pouco importa se os que lá estão são como “FREGUESES” em busca do evangelho mais barato, ou se são “VICIADOS ESPIRITUAIS” sempre em busca de uma nova unção. Para os “MÉDICOS DA FÉ” o importante é que eles estão lá! Todos ávidos para receberem a porção que lhes é receitada como tratamento. Para isto os estoques de medicamentos paliativos estarão sempre cheios, não faltando os “GENÉRICOS” e os famosos “PIRATAS”. Isto sem falar nas “FAZENDAS DE BOLDO” que eles, os PRODUTORES EVANGÉLICOS, andam cultivando largamente nos meios religiosos como alternativa barata para enfrentarem a CRI$E espiritual.

Tem muita gente comemorando o crescimento numérico de evangélicos no Brasil e no mundo, mas confesso que observo com muita precaução e desconfiança esse movimento todo, pois sei que grande parte do que vemos nada mais é do que o “EFEITO SONRISAL”.


Carlos Roberto Martins de Souza
crms2casa@otmail.com